Este trabalho não se pretende um produto de jornalismo, em um sentido estrito. Nele constam, é claro, entrevistas e apuração comuns ao jornalismo, mas reflexões do ponto de vista da historiografia foram determinantes para se contar “uma história das movimentações políticas da PUC-SP”, como espero demonstrar com este produto final.
A principal recusa ao jornalismo tradicional, a qual aponta para uma perspectiva possível de análise sobre este site, cabe à negação de um modelo positivista da história – que influenciou o jornalismo estadunidense do final do século XIX e de onde o jornalismo brasileiro mais se deixou influenciar na construção de uma técnica para a construção da “objetividade” e da “verdade”. Desta maneira, é proposital que os entrevistados deste trabalho ou o foco dele estejam longe das “grandes personagens” e seus “grandes feitos”.
A pergunta que serviu de provocação para que esta história fosse contada jamais poderia ser respondida se assim não fosse. Para saber o que, na história da PUC-SP, fez com que ela fosse um ponto fora da reta – um local singular dentre as universidades brasileiras e as demais pontifícias do mundo – a atuação política de sua comunidade precisou vir a foco. Assim, por mais que não se olvide a importância de determinados nomes da direção da PUC-SP ou da Igreja, fez-se necessário eclipsá-los e dar luz ao significado de cada ação que movimentou esta universidade. Afinal, as movimentações políticas ali ocorridas são o que, de fato, criou um ambiente que nos pudesse fazer considerar esta uma universidade singular – ainda que em grande parte relacionadas às medidas tomadas por alguma instância de decisão da PUC-SP. É esta escolha, então, que nos permite ordenar e reinterpretar, à luz dos fatos presentes, a importância que aquelas movimentações tiveram no passado. Apesar disso, os impactos das decisões institucionais e burocráticas sobre as movimentações políticas da universidade também foram apontados: estão na segunda parte desta “introdução”.
Também vale considerar que o próprio título deste site já aponta para uma recusa ao método positivista na medida em que a história aqui contada é uma das possíveis de serem contadas – e não a única, nesta ou em outra temática. Em “The Past is a Foreign Country”, o autor David Lowenthal traz uma diferenciação entre a recordação instrumental e a memória afetiva. De acordo com ele, “o passado relembrado instrumentalmente é uma paisagem convencional e estéril. Na planície uniforme do tempo, desolados cumes cronológicos, únicos sobreviventes de ambientes outrora ricos, ocupam nossa atenção. Cenários e acontecimentos não são recordados, somente a ordem e local onde aconteceram” (LOWENTHAL, 1998, p. 90). Para este trabalho, procurei escrever sobre a história da PUC-SP transitando entre estas duas abordagens históricas. Nos episódios, os textos tentam abordar os acontecimentos de maneira instrumental, de maneira que diferentes eventos sejam aproximados e seus significados, melhor compreendidos. Os vídeos com as entrevistas, contudo, buscam essa relação afetiva dos entrevistados com o momento que viveram. É dizer, então, que as entrevistas buscaram enfocar a relação individual dos atores políticos com os momentos vividos.
Também o layout do site foi pensado de forma a não trazer uma relação direta entre cada episódio ao dispor os episódios não em uma linha cronológica, mas de certa forma dispersos e sem relação esteticamente construída entre eles. O objetivo é não dar margem a uma interpretação que permita entender os acontecimentos aqui relatados como um “fluxo de tempo”. Assim, pode-se dizer que não existe qualquer relação direta entre dois momentos distintos (no sentido de um ser reflexo do outro), ainda que ambos possam ser explicados sob a mesma formulação – até porque a (pouca) distância temporal entre eles não permitiria outra coisa.
A cronologia não é, no entanto, completamente ignorada. Obviamente, o método tem uma importância e serve para manter uma linearidade que ordena os fatos contados sob um viés institucional. Este viés também ajuda a entender as movimentações políticas da PUC-SP. Afinal, nenhuma luta política se faz alheia das instituições que detém o poder.
As recombinações feitas neste site, onde episódios foram selecionados para contar uma história das movimentações políticas da PUC-SP, são em definitivo um espelho da compreensão atual da universidade como um espaço que se constituiu de forma plural e democrática, mas que hoje é valorizado pelos administradores como um passado distante e anacrônico.
Alguns entrevistados, quando contatados, mostravam-se surpresos com o tema do trabalho. Brincando que tinham virado “peça de museu”, o fato de terem sido escolhidos para serem entrevistados parece causar estranheza talvez porque a maneira de agir dentro da PUC-SP estava intrincada à vivência daquele espaço – ainda que algumas ações rompessem com a normalidade já no momento em que ocorreram. Nosso interesse e fascínio por aquelas histórias só reforçam o quão distante alguns dos fatos aqui relatados estão do presente – que é justamente o que nos fez selecioná-los como acontecimentos relevantes.
É aí que torna-se compreensível a fala da reitora Maura Véras de que os tempos na PUC-SP de 2006 eram outros, diferentes daqueles vividos nos anos 1980.