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Episódios

Uma história
institucional

Em 2005, quando a PUC-SP recebeu uma notificação da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) informando sobre emissões ilegais de ondas de rádio a partir de suas dependências, os alunos que mantinham a Rádio Xiado conversaram com a reitora de então. A Profa. Maura Véras, eleita em 2004 para o cargo que ocupou pelos quatro anos seguintes, disse que não apoiava as transmissões. Provocada sobre as diferenças na relação com esta rádio em comparação com a experiência de quase dois anos da Rádio Xilik – que ocupou livremente uma frequência em FM entre 1984 e 86 a partir do mesmo campus de Perdizes –, a Profa. Maura respondeu laconicamente: “Os tempos são outros”.

De fato, o momento era outro, mas não só por uma diferença temporal. Nos idos dos anos 1980, o antigo Departamento Nacional de Telecomunicações (Dentel) já havia notificado a universidade quanto às transmissões ilegais da Rádio Xilik. Mas, tal como explicou André Picardi, que era estudante da PUC-SP na época e fez parte da rádio, a garantia de funcionamento foi dada pelo próprio D. Paulo Evaristo Arns. Como arcebispo de São Paulo e grão-chanceler da PUC-SP entre 1971 e 98, D. Paulo fez da Igreja sob seu mandato um setor de resistência à ditadura militar. Para nossa universidade, isso se refletiu em inúmeras medidas que garantiam a autonomia da PUC-SP. No caso da Rádio Xilik, André nos conta que o próprio D. Paulo colocou os advogados da Igreja à disposição dos alunos para eventuais defesas judiciais necessárias à manutenção da rádio, naqueles anos de lenta transição para a democracia.

O contraste entre estas duas histórias tão semelhantes, mas com resultados e formas de lidar tão distintos, mostram que a Profa. Maura estava, de fato, certa: os tempos eram outros. Sintomático disto é que, ao contrário da solução apresentada para a Rádio Xilik, em 2006 a gestão Maura Véras confiscou a antena da Xiado para interromper as transmissões, aproveitando o campus fechado em decorrência do luto pela morte do Papa João Paulo II. “A PUC já tem problemas suficientes. [...] Não tenho condição de pagar multas diárias”, explicou, concluindo que a universidade é sustentada por mensalidades e que seriam os próprios estudantes que arcariam com as multas.

Para explicar esses “tempos outros” poderíamos dividir a história da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo em quatro períodos, que explicamos sinteticamente a seguir com foco no ponto de vista institucional. O objetivo é, assim, compreender o que fez a PUC-SP ser esse ponto fora da reta – uma universidade singular dentre as brasileiras e, também, dentre as pontifícias universidades católicas em todo o mundo – que levou a manifestações como as exemplificadas neste trabalho.